Escolas estaduais promovem rodas de conversa sobre saúde feminina
As ações fazem parte do Programa Dignidade e Saúde em Ciclo, que tem o objetivo de acolher as meninas e sensibilizar os estudantes. As escolas já receberam recursos para disponibilizar absorventes às estudantes da Rede Estadual
“Algumas alunas pediam para uma colega procurar, na diretoria, um absorvente porque tinham vergonha de falar que estavam menstruadas. Era notório também que algumas estudantes faltavam às aulas em determinados dias do mês por não ter acesso a um item básico, o absorvente. Outras vezes, sujavam as roupas por não ter a proteção adequada e ficavam constrangidas”, é o que relata a diretora Ivonilde Costa, da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, em Taiobeiras.
Esse não é um caso isolado, o cenário é comum e acontece em diversas escolas do país. “Muitas meninas acabam faltando às aulas pelo simples motivo de terem medo do risco de vazamento ou por não terem acesso a absorventes”, pontua a professora de Ciências da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, Nádia Gonçalves de Souza.
Com o objetivo de sensibilizar os alunos acerca de temáticas pertinentes ao ciclo, dignidade e pobreza menstrual, compreendendo a menstruação como processo humano natural e disponibilizar absorventes nas dependências da escolas, para que as estudantes tenham acesso quando precisarem, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) instituiu o Programa “Dignidade e Saúde em Ciclo” em todas as unidades de ensino da rede pública estadual de Minas Gerais.
Foram destinados mais de R$ 3,6 milhões para que as escolas adquiram absorventes higiênicos e os disponibilizem para as estudantes que precisarem, conforme orienta a Resolução SEE nº 4.826/2023, que institui o programa. O recurso foi encaminhado como forma de aditivo ao caixa escolar das instituições estaduais.
Os valores foram enviados às escolas de acordo com o número total de alunos atendidos, segundo dados oficiais registrados no Censo Escolar de 2023. As escolas podem solicitar sempre que houver necessidade, comprovando a compra e a destinação dos insumos para, assim, solicitar novo aditivo no custeio do caixa escolar.
Compreendendo a menstruação como processo natural
Como parte da iniciativa, a SEE/MG orientou que as escolas abordassem os assuntos do programa nas propostas pedagógicas, preferencialmente de forma transversal e integrada ao Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG). A pasta produziu e distribuiu materiais informativos sobre o programa e medidas preventivas de saúde referentes ao ciclo menstrual.
A estudante do 8º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, Alana Selis Silva Souza, fala sobre a liberdade de tratar a menstruação como algo natural. “Eu tinha vergonha de falar sobre menstruação porque via meus colegas fazendo piadinhas, principalmente, os meninos. Às vezes, quando estava menstruada, não gostava de ir à escola pois tinha medo da situação (passar por constrangimentos). Depois que o assunto foi trabalhado na escola, sinto segurança para conversar com minhas amigas e com meus pais, não me envergonho de falar que estou com cólica ou que estou de mau humor por causa do ciclo menstrual”, afirma.
A estudante Mariana Reis de Oliveira, também do 8º ano na instituição, reforça: “Eu acho que depois desse projeto as meninas vão levar a menstruação como um assunto mais normal, nas escolas e em casa”.
Diálogos
A Escola Estadual Neiva Maria Leite, em Delfinópolis, realizou um café para oportunizar um papo de meninas com profissionais da saúde. De maneira leve, foram desmistificados boatos que há anos são passados de geração em geração. “A menstruação é um assunto muito delicado entre a gente. Elas (professoras e profissionais da saúde) trouxeram muitas informações sobre o ciclo menstrual, sobre a higiene e o cuidado que a gente deve ter nesses dias. E também contaram sobre vários mitos que a gente conhece e que foram passados de geração em geração, mas que não são verdade.”, relata a estudante Maria Eduarda Cabral Carvalho, do 2º ano do ensino médio na escola.
Assim como ela, Thamires Henara Pinto Cardoso, do 1º ano ensino médio na mesma instituição destacou a importância de falar sobre saúde menstrual no ambiente escolar já que algumas meninas não têm abertura para falar com os pais sobre esse assunto.
“Nós falamos sobre menstruação, sem preconceito e sem tabu. Todos os alunos participaram, tanto os meninos, quanto as meninas.”, relata a professora de Portugês, Maria Josiani de Souza Lupércio, da Escola Estadual Cônego José Eugênio de Faria, em Cachoeira de Minas. Ela destaca ainda que o tema “respeito” também foi abordado para que os meninos aprendessem sobre o que acontece no corpo feminino durante o ciclo menstrual e saibam acolher as mulheres nesse momento que, de forma particular para cada mulher, pode ser de alterações de humor, dores, desconforto, etc.
A estudante do 3º ano EMTI da instituição, Jackeline Aparecida Teixeira Costa, achou que essas palestras foram muito proveitosas para a escola. “Foi um assunto muito importante para abordar em sala de aula porque ajuda na quebra de tabus e na normalização de um assunto que é muito comum entre as mulheres. Pode ser que ajude tanto as meninas, quanto os meninos a descobrirem coisas novas sobre esse assunto e também a tirar muitas dúvidas.”, pontuou.
Fotos: SEE-MG / Divulgação