Escola Quilombola em Januária é referência em ensino público de inclusão social na região Norte de Minas

A E.E Antônio Corrêa e Silva se destaca por implementar projetos pedagógicos interdisciplinares que já mudaram a vida de Marileide Moreira Costa, ex-aluna da escola, filha de pescador que está fora do Brasil em intercâmbio, e da estudante de Direito Júlia Vasconcelos, premiada pela TV Globo

24/10/2022
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Na comunidade quilombola de Alegre, distrito de Riacho da Cruz, em Januária, no Norte de Minas, a Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva é referência em qualidade de ensino público de inclusão social, pela diretriz da educação escolar quilombola que oferta à comunidade local, pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG). Na unidade, diversas ações e projetos implementados têm permitido aos alunos melhorias contínuas no aprendizado e resultados positivos no ensino.

O diretor da escola, Odair Nunes de Almeida, comenta que essa conquista é fruto de muito trabalho e comprometimento da equipe educacional que prepara desde cedo os alunos, com projetos como “Lendo, Escrevendo e Cantando no Quilombo”. “Os professores trabalham as competências para desenvolver as habilidades nas crianças, por meio da leitura, escrita, interpretação, criando contos, causos e poesias da história quilombola, valorizando as tradições dos antepassados que deram origem ao povo quilombola, durante o ano letivo”, destacou Odair.

Uma das ações deste projeto é a dança folclórica Maculelê, originalmente praticada por negros e que simula uma luta com bastões de madeira, ao som de atabaques e cânticos. A dança foi apresentada pelos alunos para recepcionar o secretário de Estado de Educação, Igor de Alvarenga, a subsecretária de Educação Básica, Izabella Cavalcante, e a equipe da SEE/MG que esteve, na última sexta-feira (21/10), em visita à escola.

O grupo de apresentação é formado por alunos do ensino médio e ex-alunos, como a estudante de Direito Júlia Vasconcelos, que também é um exemplo da qualidade de ensino que é ofertada pela escola quilombola. Ela foi premiada como aluna nota 11, no Programa “Como Será”, da TV Globo, em 2018, em São Paulo.

Júlia falou como a escola a ajudou a alcançar suas metas na vida. “Os professores, o diretor Odair e os servidores de modo geral acolhem, incentivam, acreditam no potencial de seus alunos e trabalham para que possam alcançar seus objetivos. Isso faz toda a diferença e torna a escola um espaço que nos prepara não só para o mundo acadêmico, mas também para a vida, é isso que me permitiu chegar onde estou”, explicou a aluna.
Outra referência do resultado positivo da qualidade do ensino da escola que trouxe conquistas importantes para a educação na região, é a ex-aluna Marileide Moreira Costa, filha de pai pescador e mãe doméstica, que atualmente mora fora do Brasil.

“Me orgulho muito de ter chegado onde estou. Sou pesquisadora no Westerdijk Fungal Biodiversity Institute (Instituto Científico de Pesquisa), em Utrecht, na Holanda. E se cheguei até aqui, é porque sempre fui incentivada a lutar para conquistar meus objetivos. Esse incentivo veio principalmente por parte dos professores, do diretor Odair Nunes e da estrutura de ensino que a escola me oferecia”, destacou Marileide.
De acordo com Odair, ela fez intercâmbio na Itália, pelo curso de doutorado, realizado na Universidade Federal de Lavras (UFLA), na área de agronomia, e que agora, está em outro intercâmbio. Segundo o diretor, outros jovens que também foram alunos da escola já ingressaram em diversos cursos superiores. “É uma grande conquista para o ensino público da rede estadual mineira. Isso nos mostra que projetos pedagógicos assertivos e incentivos aos estudos, transforma a vida dos alunos e muda a realidade social”, relatou o diretor.

Educação Quilombola
A assessora da Subsecretaria de Educação Básica, Iara Viana, destacou, durante a visita, a importância de garantir e preservar essa modalidade de ensino que apresenta resultados cada vez mais satisfatórios para a educação pública estadual, como os exemplos citados acima. “A Educação Quilombola em Minas Gerais tem sentido e significado, diz respeito à riqueza intelectual e científica dos povos tradicionais. São os mais de 392 quilombos sendo vistos a partir da potência empreendedora do que entregam, são estudantes quilombolas protagonizando sua história”, pontuou Iara.
A Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva atende cerca de 300 alunos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), além do curso Técnico em Administração. A escola foi criada em 11 de março de 1983 para preservar as origens do povo quilombola na região do Norte de Minas Gerais. A unidade de ensino conquistou duas premiações na 3ª edição do Prêmio Escola Transformação 2021.

Mais projetos
Mas as ideias inovadoras da Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva não param por aí. Há ainda mais projetos que convergem com a qualidade de ensino que a instituição apresenta a cada ano. A Web TV Quilombola, uma das ações do projeto Jovem de Futuro, promove o protagonismo juvenil, aprimorando técnicas importantes no aperfeiçoamento da escrita e da interpretação, além de fomentar e divulgar as ações da escola.

Investimentos
O Governo de Minas já investiu, desde o início desta gestão, mais de R$2 milhões na melhoria da infraestrutura dessa escola. Os recursos foram para a realização de obras de reforma geral na unidade, que contemplam ampliação de sala multimeios, banheiros, depósito, arquivo e varanda, construção de quadra poliesportiva coberta, além da renovação dos computadores e aquisição de mobiliários e equipamentos diversos para a escola.