Educação financeira ajuda jovens da rede estadual a empreenderem e investirem em negócio próprio para mudar realidade social
No Novo Ensino Médio, unidades curriculares eletivas apresentam novas possibilidades e oferece maior protagonismo aos estudantes durante a formação
João Vitor Ramos da Silva Santos, estudante do 2º ano do Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI) da Escola Estadual Labor Club, de Governador Valadares, usou as experiências compartilhadas nas aulas das disciplinas eletivas dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio (NEM), para empreender e criar a loja virtual Meraki Outfit, de streetwear. No Sul do estado, em Ouro Fino, Camilly Vitória de Araujo Santos, de 16 anos, do EMTI da Escola Estadual Guerino Casasanta, também transformou seu talento em um salão de beleza especializado em tranças, algo diferenciado em sua região. Na proposta do modelo, os itinerários formativos com as unidades curriculares eletivas, como a Educação Financeira, complementam a formação básica dos jovens.
Vindo de uma família simples, João Vitor se destacou nos estudos ao criar seu primeiro negócio. Ele usou a criatividade e o olhar para o empreendedorismo juvenil. Além de poder gerar renda para a família, ele está empregando alguns colegas da escola, que também são estudantes do EMTI. Os jovens trabalham como modelos, assistentes de marketing e vendedores da Meraki Outfit.
Para ingressar no mundo dos negócios, João Vitor contou com ajuda e orientações dos professores Daniele Marques, da disciplina de Introdução ao Mundo do Trabalho, Elisete Maria Vieira, que leciona Desenvolvimento Pessoal e Coletivo, e Marconi Delfino dos Santos, da disciplina de Educação Financeira. Todas as matérias integram as eletivas do EMTI, modalidade oferecida na rede estadual de ensino em Minas Gerais.
Durante as aulas, o adolescente aprendeu técnicas importantes de marketing digital, redes sociais e para atrair o público desejado. Segundo o jovem, foi aí que o projeto começou a sair do papel. “Eu já tinha o sonho de ajudar minha família e, com os professores, aprendi técnicas importantes, teorias sobre mercado de trabalho. Foi isso que me ajudou a entender melhor o mundo digital. Percebi que poderia ter um negócio próprio, mesmo sem ter muitos recursos financeiros. Foi assim que tive a ideia para criar a loja virtual”, contou o João Vitor.
De acordo com a professora Daniele, o estudante sempre foi muito inteligente, curioso e criativo. “A história de vida do João Vitor nos motiva a trabalhar mais pela educação transformadora, que traz resultado efetivo para a vida das pessoas. Ele é exemplo e motivação para os colegas. Isso nos dá muito orgulho”, contou a educadora.
O negócio on-line do estudante é promissor. Segundo levantamento da Pesquisa por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE, em 2022, cerca de 90% da população brasileira tem acesso à internet, o que deverá contribuir para o jovem conquistar mais clientes, alavancar as vendas e aumentar a renda, movimentando a economia familiar e de sua região.
Referência de mercado
Mas não é só a vida do João Vitor que está sendo impactada. Camilly Vitória de Araujo Santos, de 16 anos, estudante do EMTI da Escola Estadual Guerino Casasanta, de Ouro Fino, descobriu o talento nas aulas de empreendedorismo.
Ela montou um salão de tranças personalizadas, especializado em tranças nagô, box braids e twists. O negócio surgiu primeiro de maneira informal, quando Camilly atendia os clientes dentro de casa. Mas, com o aumento da procura pelos serviços, criou um espaço próprio.
“A gente pensa que a vida profissional só começa após o ensino superior, mas, com o direcionamento, pude perceber que eu tinha um talento e que poderia crescer. Hoje tenho o meu salão especializado em tranças nagô e sou referência deste segmento na minha região”, comemorou a estudante que mudou o estilo de vida ao criar sua empresa ainda na adolescência.
A estudante também destacou o crescimento pessoal. “Com certeza as aulas foram um diferencial nessa minha trajetória. Aprendi muito e sigo aplicando as teorias”, comemora Camilly, que vai concluir o ensino médio em 2024. Seu trabalho é divulgado no perfil @ktrancasss, no Instagram.
Eletivas no ensino médio
Minas Gerais optou pela implementação do Novo Ensino Médio de forma gradual. Em 2022, começou com as turmas de 1º ano, e em 2023, com todas as turmas do 2° ano. Em 2024, o Estado ampliará para as turmas do 3º ano. Atualmente essa etapa de ensino é oferecida em mais de 2,4 mil escolas da rede estadual mineira.
Na proposta do Novo Ensino Médio, os itinerários formativos são complementares à formação básica e têm o objetivo de proporcionar mais flexibilidade ao currículo, maior protagonismo ao estudante e atender aos princípios da formação humana, como o Projeto de Vida, que gera valor para a formação pessoal, social e profissional dos adolescentes.
Em Minas Gerais, são nove opções distintas de itinerários. Na composição deles existem 43 possibilidades de eletivas, sendo 34 destinadas às escolas regulares do Novo Ensino Médio e nove destinados às escolas indígenas. As unidades escolares puderam escolher as eletivas que melhor se adequassem aos interesses dos seus estudantes, bem como às singularidades locais e regionais.
A diretora do Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), Rosely Lima, ressalta a importância da flexibilização prevista no currículo. “Os itinerários permitem ao estudante aprofundar seus conhecimentos e a se preparar para continuar os estudos ou para o mundo do trabalho, conforme seu desenho de Projeto de Vida. Traçar essas metas é o primeiro passo para sistematizar planos de forma que ele consiga organizar os seus sonhos e ter um planejamento para o futuro. Muitos caminhos vão surgir e muitas descobertas serão feitas e, dentre elas, o despertar para o desenvolvimento de capacidades profissionais”, finalizou.